sábado, maio 12, 2007

Reality show




Quando assisto aos “eventos” dos nossos representantes penso que as televisões brasileiras gastam fortunas em “royaltes” sem necessidade. Aliás, nesse sentido, estamos mais para exportadores do que para importadores de “reality shows .Estou me referindo ao “show” da quarta-feira, dia 9 deste mês, na Câmara Federal. Show, repito, para ninguém botar defeito: o deputado Clodovil chamando uma outra Deputada de feia, a Deputada debulhando-se indo chorar suas pitangas para o Presidente da Mesa, o Presidente da Mesa, aprovando uma representação conta o Clodovil e que tais e afins.


À propósito da Deputada que até passou mal: que bobagem! chorar e passar mal porque alguém a considera feia, no seu conceito de beleza! Na minha opinião o feio se manifestou sob dois aspectos: na atitude grosseira do Deputado Clodovil e na falta de equilíbrio da Deputada, tendo chiliques por algo tão sem importância. Se a ofensa fosse outra até entenderia. Ela não estava ali como mulher, estava como Deputada, ser bonita ou feia, no aspecto físico, não tem a menor relevância. Mas enfim, foi um verdadeiro fiasco!


Nesse fiasco todo os nossos representantes preocupados com os conceitos de beleza (física naturalmente, porque nos outros... bem... fico quieta) tomaram não só as dores da Deputada como e também as suas e, infelizmente, as nossas, ás avessas .Aproveitando que a mídia estava ocupada com a chegada do Papa paparam mais uma vez os nossos bolsos. Faz algum tempo tentaram um aumento de 91% , frustrados na iniciativa em decorrência da forte oposição da opinião pública em geral, trataram de baixar suas expectativas (por enquanto) para 28,53%. É incrível: quando se trata dos seus próprios interesses como são ligeiros! Bota presteza nisso!


Não que eu ache que R$16.512,00 seja um salário desproporcional, considerando um cargo de tamanha envergadura, embora, naturalmente, o salário é muito maior, considerando não só os “indiretos” como o tempo de dedicação. Trabalham três dias por semana (eu disse trabalham? caramba estou boazinha hoje, acho que é o Papa). O problema não é esse! Está na contra-partida dos “investimentos “ que nós cidadãos comuns (a grana sai dos nossos bolsos ) recebemos, nesse costumeiro e usual “reality show” de todos os dias, onde o interesse público vem em último lugar, quando vem !A minha memória não é curta, diferentemente da minha paciência de cidadã. E não sou ruim de matemática. Sei contar. Quanto tempo perdido na peleja dos governistas que não queriam a CPI do apagão? e por conta dessa peleja quanto os oposicionistas deixaram de aprovar projetos de relevância? Sempre nesse toma-lá-da-cá?


Enquanto isso no telejornal da manhã eu verifico um menininho de nove anos, em Brasília, esperando uma UTI há oito anos e um outro irmão-cidadão contar que o pai morreu porque não havia UTI disponível.

Realmente o Brasil precisaria investir mais em propaganda pela quantidade de “realitys shows” que protagoniza diariamente, talvez os “royaltes “ equilibrassem a balança comercial.


Ainda bem que tenho a poesia. Assim monto nos versos do Mário Quintana (Poeminha do Contra) e consigo vislumbrar minha esperança na pombinha que vejo da minha janela , pendurada num fio elétrico . Afinal ela pode voar, não? E quem sabe um dia eu também, como cidadã.


Eles passarão
Eu passarinho


Sandra Falcone


querida Sandra, ou seja, neste reality show, só os fracos continuam indo para o paredão.compartilho de tudo isso, mas fico triste, pequena, pensando em minha (in)capacidade do que mais fazer, além de passarinhar com água no bico em meio ao incêndio da floresta.o quê?onde está nossa força?onde está nossa gana?onde moram nossa revolta e nossas avessas? hoje a Comissão do Senado conseguiu rir de um rap dos RAcionais MC's que o Suplicy interpretou para ilustrar que o problema do banditismo na juventude não é exatamente falta de prisão. o que é ridículo nessa história? será o excesso de humor?o mais intrigante é que ainda existe uma fé esquisita que move tudo isso, coisa que às vezes mais parece idolatria, como se cuidar do espírito (individual e comunitário) fosse como torcer para um time de futebol ou estar na voga da banda musical do momento, inda mais se o ídolo pop-star envolto em túnicas portanto 15km de fios de ouro bordado, aquele que não pode ver os mendigos brasileiros (gente feia? suja? perigosa? mal-cheirosa? indesejável?????) dos arredores da Sé aparece na janela e dá um tchauzinho extra pros fãs. e assim caminha a humanidade. que tipo de anestesia estão colocando em nosso leite de caixinha?beijo grande,saudades

Lilian Alves


Em primeiro lugar grata pela leituras de ambos.

O nosso cotidiano é de contrastes, um povo lindo, muito sofrido e penso, sinceramente, que se lhe fossem dadas as oportunidades mais comezinhas da vida não estaríamos a mercê de tanta violência, de tanta pobreza. Por isso, procuro de alguma forma (através das minhas palavras escritas) fazer alguma coisa, ainda que pouco calem nos corações, pois em função da minha coluna semanal no jornal, recebo muitos e-mails e posso avaliar qual a preferência geral. Um artigo como este, geralmente, não tem muita reciprocidade, pois a realidade dói.

Outro dia um colunista "vip" me escreveu dizendo que eu perdia meu tempo escrevendo temas dessa natureza e deu o Jabor como exemplo (a quem muito admiro ) e dizendo ainda que todos preferem as novelas da Globo. Fiz uma longa réplica (rs) em síntese contestando :que o fato de , aparentemente, preferirem a novela da Globo, onde tudo dá certo, , onde as casas são bonitas, arrumadas, ninguém passa fome, não é alienação do nosso povo, apenas fuga, uma fuga inconsciente: eu não tenho, mas ele tem, a compensação indireta.

Hoje fiquei emocionada com a recepção ao Papa, não pelo Papa, mas pelo nossos irmãos, tão cheios de esperanças, tão propensos à paz, a conciliação, na busca do bem maior. É por isso e, ainda, por tudo que presenciou diariamente, é que luto com minhas palavras para a conscientização, desvinculando-me do meu próprio umbigo.

Sei que artigos como estes ferem, mas prefiro continuar ferindo, porque tenho em contrapartida, pessoas como vc, como o Flavito, como leitores . Brincando: de grão em grão a galinha enche o papa, ops, o papo.

Carinho imenso

Sandra