domingo, maio 24, 2009

Zé Rodrix e a nossa casa !


Zé Rodrix participou da minha vida, num momento especial e doloroso. Desde muito menina sempre sonhei com uma casa (estilo 50 ), chegava mesmo a andar em sonhos pelos cômodos. Os arcos, os jardins, o quintal. Um dia, passando por uma rua vi uma placa de aluga-se e fui olhar a casa – embora, naquele momento, morasse num apartamento recém comprado, lindo nos Jardins. Mas a placa e a delicadeza da fachada fizeram com que eu quisesse ver a casa por dentro. Havia um porteiro e assim fiz. Mal entrei já sabia que era a “minha casa”. Quando tentei alugar, contra a vontade de todos, inclusive do meu marido, não dei ouvidos. Era cara demais, comia metade do meu salário. Resumindo, tinha umas três pessoas na minha frente, com condições melhores cadastrais, mas a casa foi alugada pra mim. Morei de aluguel durante três anos, um dia uma vizinha me ligou e disse que queria comprar meu apartamento e pagou a vista. Imediatamente liguei para o dono da casa que se recusou a vender. Depois de muitas investidas consegui comprar. No dia da assinatura da escritura, o ônibus que eu estava (o proprietário morava no interior) chegou a pegar fogo.

Eu amava aquela casa, chegava mesmo a beijar suas paredes. Fui feliz nela durante mais de 10 anos. No entanto, aos poucos, meu casamento foi se deteriorando. Meu ex marido tornou-se uma outra pessoa desconhecida e não me deixava colocar um dedo na casa, a piscina sempre suja, destruiu o jardim, cortou minha goiabeira. Meu cão de guarda, Morris, que eu tanto amava, morreu. Parecia que a casa e o cão acompanhavam, fisicamente, o desmoronamento do meu casamento.

Quis me separar, ficar com a casa, mas meu marido não arredou o pé, tornando a minha vida insuportável. Resolvi me separar e sai da casa. Tempos depois como a casa era muito grande, entramos num acordo para vender a casa. O Zé Rodrix comprou dando a dele como entrada.

Uma linda e pequenina casa que eu pretendia morar. Alguns meses depois, descobri que seria impossível morar nela, pois todas as casas do bloco da rua haviam sido vendidas e a minha ficaria no meio de prédios de mais de 20 andares, espremida, sem luz, ou seja, um inferno. Vendi também.

Certa vez num programa do Jô ele disse que morava na casa de campo (em alusão ao seu maior sucesso) mas na cidade. Entendi perfeitamente o que ele queria dizer. Eu chorei a noite toda e ainda choro quando passo pela casa, que ele conservou como era, pintando na cor branca que eu sempre desejara pintar e tirando as grades das janelas, que tanto me incomodavam.

Sempre fiquei feliz que a venda tenha sido feita para ele, pois imaginava a minha casa ouvindo suas canções. Era como me sentisse perdoada por ela, por te-la abandonado!

A nossa casa hoje, deve estar chorando a sua perda, como chorou no dia que eu sai.

Sandra Falcone