quinta-feira, novembro 05, 2009

Galismo? Não, vampirismo!



Tem-se notícia que a Juíza da 5ª. Vara Fazendária de João Pessoa concedeu liminar autorizando briga de galos no Estado. No seu absurdo despacho atendeu a um pedido da Associação de Criadores e Expositores de Raças Combatentes da Paraíba entendendo que seus sócios estão impedidos de praticar o esporte galismo, acrescentando nas suas justificativas que se trata de um esporte milenar.

Chamar de esporte essa barbárie? Ferir e mutilar animais de qualquer espécie, submetê-los aos maus tratos de uma maneira ignóbil é esporte? Só se for na cabeça dessa senhora que não tem o menor senso de humanidade. Alega ainda que não há no ordenamento jurídico vigente e norma que proíba a prática do esporte denominado popularmente de briga de galo. E precisaria minha D. Juíza? Mesmo se não houvesse lei federal que criminaliza os maus-tratos?

O que me espanta é a indecente justificativa da Associação de Criadores e Expositores de Raças Combatentes da Paraíba que tem a desfaçatez, para não escrever algo muito mais pesado,de invocar a Constituição brasileira como lastro da sua bandeira tarjada com o sangue dos pobres animais: "ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal". E ainda tem a petulância de dizer que as autoridades são pressionadas ou mal informadas.

E de pensar que este entendimento não é isolado, que Desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso justificaram manutenção das rinhas de galo como sendo "cultura nacional" e que nos últimos 11 anos foram três julgamentos, todos favoráveis à associação que mantém a rinha, dando guarida a lugares imundos, indefesos animais se digladiando, com homens gritando selvagemmente, enquanto os animais sangram , apostando dinheiro?! Galismo? O que é isso gente! São vampiros fantasiados de desportistas.

Cultura Nacional? Vergonha Nacional, isso sim. Retrocesso vil.

Esporte?Caramba, usar esse santo nome em vão, deveria tipificar crime hediondo e inafiançável. Onde o galismo contribui para a formação, desenvolvimento, aprimoramento físico, intelectual e psíquico dos praticantes e espectadores. Cria identidade esportiva para a inclusão social?
Só mesmo recorrendo a alguns versos de Antero de Quental para encontrar alento!

(*)... Sim, montes! onde vamos? onde vamos,
Que a criação, em volta a nós pasmada,
Emudece de espanto, se passamos
Em novelos de pó sobre essa estrada?...
As águias do rochedo, e a flor, e os ramos,
E a noite escura, e as luzes da alvorada,
Perguntam que destinos nos consomem...
E os astros dizem onde vai o Homem? ...”

(À HISTÓRIA/III/ANTERO DE QUENTAL

Texto: Sandra Falcone