quinta-feira, agosto 13, 2009

Mais do que embuchados !



Ainda não aprendi, apesar de levar tanto cascudo nos neurônios que nem sempre posso ler uma expressão ao pé da letra. No que se refere ao Senado, posso afirmar que não há dicionário da língua portuguesa que dê suporte. Nem legal. Nem lingual. Nem o escambau!
Só tem um jeito: se inventam tantos códigos inócuos, por que não inventar um dicionário só para o Senado? Ficaríamos assim mais confortáveis e não teríamos que fazer carinho nas palavras vilipendiadas escritas e faladas. Não posso deixar de pensar nos grandes mestres poetas e escritores que tanto usaram dessas mesmas palavras para transcender a alma, retratar este nosso país com louvor e esperança. Como deve ter sido difícil, quanto sofrimento! Nesta noite até sonhei com Gonçalves Dias, chorando de fazer dó!

O Senado decidiu manter as gratificações dos servidores concedidas na calada da noite. Parecem gatunos do dinheiro sofrido dos cidadãos comuns, quando publicam 80 atos secretos, validando no diário oficial a gatunice numa só canetada. O argumento de José Sarney? O vício da falta de publicação dos atos já foi sanada...
Não consigo deixar de indagar: sanou o quê? Sanar, meu caro presidente do Senado, não é isso aí que o senhor fez. Sanar, meu caro presidente do Senado, no dicionário do cidadão significa promover limpeza, reparação, cura.

Onde está a limpeza, reparação, cura? Na validação das gratificações pagas desde 1999? permitindo a manutenção dos bônus concedidos? nas outras 152 gatunices e nos 36 atos administrativos, entre eles o que reajustou a verba de representação dos senadores de R$ 12 mil para R$ 15 mil?

Diante dessa saraivada de bombas atômicas na moralidade dos atos públicos, não lhes ocorre que nós cidadãos comuns temos capacidade de entender não só o que é sanear como – e também – derivar para saneamento e tipificar esses atos como um sistema de esgotamento sanitário que permite o rápido escoamento de imundícies?
Outrossim, igualmente, também e bem assim, esses mesmos cidadãos sabem que esgoto quando saturado embatuca. E nada de confundir com batuque! O povo um dia vai fazer tudo isso calar, já está mais do que embuchado, pode acreditar! Eu acredito!

Bem, só me resta fazer um dueto com o Gonçalves Dias na sua Canção do Exílio:

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.


Sandra Falcone