quinta-feira, junho 25, 2009

luas esvoaçantes


Estava cansado.Muitas luas atravessara. O vento ao seu lado, machucando as feridas ainda abertas. Entrou na caverna e, de cócoras, lambeu o corte mais profundo, grunhiu de dor. Ouviu um leve ruído, pulou para um canto da caverna em posição de ataque. A caverna voltou a ficar silenciosa. Sossegou e voltou a lamber-se. Logo depois adormeceu. Acordou com mãos ásperas passeando pelo seu corpo. Na escuridão percebia apenas os olhos e também sentiu o cheiro. Os olhos não eram da caça mas o cheiro era de fêmea. Ficou imóvel. Sem entender a razão deixou-se tocar. O coração batia de um modo diferente, não havia o medo, mas assustava. A sensação era boa como o rio que descia as montanhas... fresca e incomodante.
Fechou os olhos...O corpo sobre o seu, algo incompreendido, mas desejado. Seu corpo tremia, uma vontade de penetrar como uma lança, num mundo mágico que desconhecia.Não entendia o que acontecia, mas queria mais e mais...sem parar, uma fome que não era fome, mas faminta. Todo seu corpo teso. E, de repente, do fundo das suas entranhas todas as luas explodindo juntas. Urrou, como uma fera ferida. Depois o silêncio, o cheiro foi se distanciado. Cansado, adormeceu. Muitas luas vieram, suaves, esvoaçantes.Sonhou que era um pássaro. Acordou leve.Saiu da caverna. Olhou para o céu. A fera chegou de repente. Foi devorado.

Do fundo da caverna um grito fino e solitário espantou a ave de rapina que aguardava os restos.



texto e imagem: Sandra Falcone