sábado, fevereiro 10, 2007

Felicidade




Estava sufocada pela saudade , uma saudade que, vez por outra, abatia-se sobre ela, uma saudade do nada, sem forma, cor, tempo, nem lembranças... Uma saudade de ninguém e de todos... A saudade de uma esperança que passeou sobre seus sonhos, de olhar o infinito , ficar calada... e falar muito, gritar... Tanta coisa, tanta!

Num ímpeto, largou o trabalho, pegou a velha estrada e foi olhar o seu mar, o seu querido mar de Santos, confidente das horas boas e amargas, foi até ele, deixando que as ondas beliscassem seus pés e marulhassem verdades.

Ficou lá, quieta, ouvindo, ouvindo a profundidade do mar, a profundidade da verdade, a profundidade da Vida, tão profunda e misteriosa como aquele marzão imenso...

Às vezes pensava :

____ Como não se percebe a grandeza do mar , incrivelmente idêntico à vida... O eterno fluxo e refluxo, de mansidão e revolta ?

Uma coisa era absolutamente certa: amava o mar, especialmente aquele mar, que beijava as ruas de suas lembranças... Lembrava-se daquela canção:

___ É doce morrer no mar...

E quantas e quantas vezes morrera um pouco ali, naquele lugar e quantas outras renascera? Infinitas...

Uma vontade incontrolável de sussurrar palavras de amor ao mar :

___ Meu amor, querido, carinho, meu bem...

E, no ritual que aprendera , entregou-se docemente a ele, banhando-se na água fria lentamente, entre ondas suaves e truculentas, no gozo físico e psíquico, pleno, mulher, fera, alma...selvagem e submissa...

Depois, devagar seguiu pela noite e pela praia vazia, com as ondas ainda insatisfeitas , lambendo seus pés,querendo mais amor , acompanhada da sua solidão intrínseca de ser, embalada pelo ritmo do seu coração, da sua respiração, do seu sangue correndo entre milhares de veias, artérias... num dueto lindo, cantando a vida, na complexidade e simplicidade do macro e micro cosmos...

A brisa arrepiou a areia da praia, ouvindo o seu riso, escandaloso e feliz.

Sandra Falcone
(maio 2000)