quarta-feira, julho 29, 2009

Infidelidade sim, mas... respeito!

A dor era furiosa. Jamais havia sentido algo parecido. Asfixiante.

Logo ele, a pessoa em quem mais confiara na vida. Ficara pasma com o tratamento que dera a algo tão delicado. Afinal, infidelidade é infidelidade e como tal deve ser considerada: com respeito. Não se tratava de desconfiança, nem provas circunstanciais, nada disso. A coisa tinha sido clara e, pior ainda, a amante tivera o desplante de confessar, na sua cara, sem mais essa e aquela. Mas ele negava. Se ao menos tivesse confessado, num daqueles dramalhões mexicanos bem caprichados, talvez até reconsiderasse, pois serviria de lição para que, na próxima infidelidade, fosse mais cuidadoso. Mas, além de incompetente na arte da infidelidade, não tinha o menor tino na escolha.

Se enredar com uma amante sincera!?

Foi só perguntar e a pobre abriu o bico, ou melhor, o jogo. Mas ele negava. Que descarado! Logo com ela, que fora sempre e absolutamente infiel durante todo o relacionamento! Logo com ela, que sempre tratara a infidelidade como devia ser tratada, com todo o respeito, em segredo, intramuros!

Logo com ela, infiel convicta, que tomou todos os cuidados pra que ele fosse poupado! Imperdoável! Com que preocupação era infiel. Quanta consideração: os lugares escolhidos, os horários. E as vezes que terminou um relacionamento que estava se tornando sério demais, exclusivamente por conta dele?
E seus amantes, cada um deles? Diferentemente da frouxa que ele tinha arrumado, se torturados até a morte, negariam.

Como querer ensinar a missa pro vigário. Quando tomou conhecimento, por inépcia dele, da infidelidade praticada, teve vontade de dizer: “de infidelidade sou mestre, doutora! Eu estou pouco me lixando pra sua infidelidade! Não perdôo é a sua falta de cuidado comigo!!! Como deixou que eu tomasse conhecimento? E que mulher mais indigna foi logo arranjar? Nem um segundo pensou em negar, um segundo! Aliás, perguntei por perguntar, porque a cara da sua amante sincera era já uma confissão escrita pelo próprio punho, assinada e com firma reconhecida.”

Mas ficou calada, deu as costas e foi embora, com um olhar ofendido, magoado, como uma boa mulher ultrajada. Entrou com o pedido de separação litigiosa, no dia seguinte, alegando: adultério, qualificado.


Sandra Falcone