sexta-feira, junho 19, 2009

Outlook Express X MSN

Absorta, sem qualquer dor, nada... Apenas absorta, lia as mensagens da sua caixa postal eletrônica. Um mundo de sonho em palavras, dia a dia... Não fora preciso muito esforço para cair na real. Sentia um pouco de tristeza e, ao mesmo tempo, certa piedade do que seus olhos liam. Quanta vontade de ser, ter, estar. Continuar nesse diapasão de verdades-mentiras? era tão aconchegante esse mundo virtual!Lembrava-se da primeira dor virtual, ainda doía... não por quem provocou, mas pela sensação: desanimo, desdém, mágoa... a impotência das palavras ao vento.
O aviltamento da palavra? Ou a constatação de que a palavra é multifacetada? Mas o que importava agora? Sabia-se parte do rol das outras Marias virtuais. Dividiam o mesmo espaço, na mesma tela plana e branca, dele. Quem sabe algo diferenciado na fonte: times new romam? tunga?verdana?lucida sans?garamondo? Ou talvez uma outra formatação justificada? No preto, no azul, no bordô?
Minimizou o Outlook Express por alguns instantes. Foi até o MSN dele, clicou no perfil e mais uma vez leu todas as mensagens - suas e das outras Marias. A vontade de dizer... olha li, sei... desmascarar ? pra quê? de alguma forma era uma espécie de vingança, ler as palavras padrão dele. Será que ele acreditava mesmo na segurança da virtualidade, na pseudo-privacidade? Assim seja! Amem!
O cd ao seu lado, os metais, as cordas... A flauta doce. A 9ª. Sinfonia... Inacabada?
Foi até o site de poemas românticos... Escolheu um, copiou, abriu novamente o Outlook Express, clicou em responder e colou, com um beijo.
Tomou um café, foi até o seu MSN. Deletou todos as mensagens dos seus Josés! desligou o computador... antes de sair apagou as luzes da sala, com dedos de monotonia.
Já na rua apenas o vento açoitando seu rosto, indiferente!


imgem e texto: Sandra Falcone