quarta-feira, janeiro 10, 2007
RATOS
para T.S.Eliot
Já que um poeta de altíssimo coturno,
aliás velho gambazão, grave e soturno,
verteu tinta e talento, em versos caricatos,
para cantar a glória felina dos gatos,
eu, poeta de meia tijeliot, prometo,
na língua dos portugas e dos paragatos,
renunciar a tais glórias – e aqui vos submeto
estes meus versos camundongos sobre ratos.
O’ musas dos murídeos, que habitam os bueiros
e atormentam as noites brancas dos queijeiros!
Eu vos invoco e a vós suplico agora a que me
soprem engenho e arte em vosso escuro acme!
Ninfas de todos os mamíferos roedores,
que bebem nos esgotos negras ratafias,
soai o rataplã de vossos mil tambores,
que eu vou ratazanar em muitas freguesias.
Valei-me deusa Karniji dos trovadores
e dos ratos, valei-me nestes versos maus,
nestes versos meus, feitos a teclado & mouse,
o santo-daime vosso dai-me dos louvores.
Que eu, insolente, agora me ponho a cantar,
não como o príncipe dos negros e mulatos,
cuja pesada cruz não se ousa carregar,
mais ao modo, talvez, de Gregório de Matos:
Assef Kifouri
Guepardo
O guepardo e o gnu
O guepardo espreita, ao longe, a sua presa.
Não há qualquer misericórdia em seu olhar.
Só brilho – fino e frio – do aço de cortar.
O predador é um vulto (oculto) na surpresa.
A mãe lambe o pequeno gnu recém-nascido:
Viver de agora em diante é uma questão de sorte.
No entanto o vento sopra a favor da morte.
Inerme, fraco e lento – ele é o escolhido.
Eis que o caçador se descongela, avança,
O corpo esguio, coleando, como quem dança,
Passo após passo sobre patas de algodão.
Contra a manada ele arremete! A cem por hora!
Abocanha o filhote e o derruba no chão!
E, ali, ele o desventra – vivo – e o devora!
Assef Kifouri
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