quarta-feira, maio 16, 2007

entrega


a minha solidão
de mulher
sempre viveu
nas quatro paredes
da minha intimidade
(enclausurada)
até o dia que deixei
a porta entreaberta
e você entrou
(sem estardalhaço)

sorrindo de emoção
aconcheguei-me

toquei suas mãos
(estavam vazias)

então alcancei seu olhar
(estava opaco)

mas você recendia a Vida!

procurei sua boca
(estava cansada)

ainda tentei seu corpo
(mas já era tarde)

a minha solidão voltava
forte, senhora
(soberana)

tomando o seu lugar
trancou a porta
fechou as cortinas
e docemente
envolveu-me num abraço
(seco)

eu
mais uma vez
cativa
(entreguei-me)