terça-feira, janeiro 16, 2007

Koala


Kuala

A Onça numa manhã febril. Na solidão das estepes. Encontrou dois olhos negros olhando para a mesma presa. De pronto, no atavismo da espécie, preparou-se para o ataque e o Lobo para a defesa. Naquele vai e não vai um Gavião, larapio, rápido levou a presa. Onça e Lobo não tendo mais pelo que lutar quedaram-se, e trataram de espantar um enxame de Mosquitos fofoqueiros que teimavam em passear nos seus pêlos. O Sol, frustrado com a luta que não aconteceu, foi olhar o outro lado do Horizonte e no caminho encontrando a Lua resmungou: Dois panacões. Lerdos como uma Tartaruga-avó. Eu que me aprumei e até apostei três trovões. Que raiva! E ordenou: deixe os dois estar na escuridão. Não lhes faça companhia.

A Lua obedeceu.

Na manhã seguinte a estepe estava solitária, Apenas dois Pássaros delicados, um negro e outro branco, cavalgavam no dorso do vento.O Sol, curioso, perguntou para duas Nuvens que passavam ligeiras: viram por aí a Onça e o Lobo? A primeira, mal humurada, em nuances cinzas respondeu: sei eu? To procurando a Chuva. A outra, na transparência da delicadeza : ainda não, mas como pretendo pelo Dia passear, vou procurar e, se encontrar, aviso você. E foi embora desenhando no Infinito poemas abstratos.

Sol já muito alto na impaciência, foi fustigar a elegância de duas Gazelas: Ontem deixei o Lobo e a Onça por aqui, sabem onde foram? As duas raparigas se entreolharam e responderam: se soubéssemos não estaríamos aqui! E trataram de sair saltitantes .

E assim foi pelo Dia afora, perguntando ali e acolá e raivoso foi esquentando tudo e todos. Um sufoco só, tanto que todos correram para a Cachoeira pedindo abrigo. O Rio quase à mingua em total desespero, suas Águas debatendo-se violentamente, num caos nunca presenciado pela Mãe-Natureza. Naturalmente, diante daquele quadro devastador, como boa mãe que era e é, tratou de arrumar um jeito de aquietar seus rebentos. Não precisou pensar muito.

Primeiro tratou de sossegar o pito do filho que provocara tamanha confusão, tascou logo um Eclipse Solar, daqueles de fazer dó. O Sol , ainda que revoltado, teve que submeter-se, já que a Mãe tinha sido muito clara: ou deixa essa bobagem, cuide daquilo a que veio, não se intrometa em seara alheia, ou vou proibir você de ficar espiando o que acontece por aqui!

A turma toda diante da ameaça de ficar sem o Sol tratou de fazer um abaixo assinado , pedindo clemência; antes tiveram o cuidado de pegar uma declaração de próprio punho do Sol que jamais voltaria a ficar tão esquentado. A Mãe-Natureza atendeu ao pedido. Vez por outra, quando o Sol fica desobediente, manda uma Eclipse Solar de aviso. Sempre dá resultado e a Vida continua no seu doce circulo vicioso :O Lobo e a Onça, ainda se estranham...e o Gavião-larápio continua rondando, a Chuva vem , a Chuva vai, alguns Trovões, uma Flor fenece e outra nasce do bico de um Sabiá e o Sol, com mais ou menos calor, sempre volta a brilhar!

Com toda essa confusão não notaram um lindo rebento, nascido alguns meses depois do entrevero do Sol, da Onça e do Lobo. Um ser extraordinariamente delicado, com o olhar cheio de meiguice. A Mãe-Natureza sorri encantada quando encontra o bichinho. É seu neto predileto. Do encontro só ficou a cor dos pelos do Lobo , no rabinho um pouco da cor do Sol, quando se aquieta e, da Onça, a mania de subir em árvores. É um tanto esquisito...

Também, com esse trio !!!!


Sandra Falcone