
quantos outros
setembros e marços
torturados
das balas perdidas em Copacabana
nos Araguaias
de todas as praças
das mães de maio
quantos outros
desenhando vermes
e ventres
meninos
de olhos opacos
que não mais sabem
chorar
dor
medo
fome da fome
quantos outros
pintados em technicolor
pela indiferença
na tela da tevê
guernicas surrealistas
negras
amarelas
de olhos amendoados
assustados
olhos sem rostos
rostos sem olhos
burcas
bonés
braceletes
sapatos
camisas e saias rodadas
entrelaçadas
decepadas
num pas-de-deux
de corpos díspares
que jamais se tocaram
Ah!quantos outros
setembros e marços
de marias-de-josés em nome do pai?
do filho?
do espírito santo? ... amém
Sandra Falcone